05/04/2021 - 12h07min
Dia 13 de março de 2020, os grupos de risco para Covid foram remetidos a trabalhar em casa. Organizando minhas tarefas, comentei com os colegas que não retornaríamos antes de agosto. Quase acertei! Acredito que só errei o ano. Mas era muito difícil prever uma hecatombe dessa magnitude.
Em casa, no início, fiquei atrapalhado com as horas e os dias. Aos poucos, fui adequando as atividades. Ocupo parte do tempo lendo, escrevendo e prospectando autores e publicações. Na internet, vasculho jornais nacionais e internacionais para ter uma visão mais diversificada dos fatos e atos.
Fazendo uma análise simplista do exílio, além do já relatado, destaco as lives de reuniões de trabalho, grupos de debates, apresentações culturais e bate-papos com amigos. Obviamente, todas desprovidas do calor humano.
Outro impacto foi nas viagens que não aconteceram. Eu, a Lúcia e a Virgínia estamos há um ano sem ver a Alice e o Bruno. Não rolaram as brincadeiras, os agitos, os passeios, as risadas e as histórias na hora de dormir, assim como os papos com a Roberta e o Pedro. A saudade dói no peito!
Ao dar sequência nessas reflexões, me deparei com uma verdade avassaladora: O Brasil já perdeu mais de 300 mil vidas para a Covid. Foi então que percebi que as minhas angústias são insignificantes comparadas com a dor de milhares de avós, pais, maridos, esposas, filhos, netos, amigos, vizinhos que choram seus amados que se foram e não voltarão mais. Perplexo com a letargia do nosso povo, não segurei as lágrimas que rolaram tão rápidas e intensas quanto os pensamentos. O peito doeu de forma muito mais forte!
Existem momentos singulares na vida. Há alguns anos, fomos à missa de Páscoa na Nossa Senhora da Paz. Quatro padres faziam a homilia. Curioso, fiquei atento ao que diziam sobre a ressureição e a Páscoa. Aí, percebi uma realidade: Nunca tinha meditado o suficiente sobre as doutrinas e dogmas da religião católica. Na época, até escrevi sobre esse assunto. Hoje, trago de volta, devido a uma maior reflexão e aos desdobramentos que se sucederam.
Aos poucos fui pesquisando sobre a vida de Jesus e descobrindo o legado que deixou. Percebi que, se praticássemos um pouco do que “Ele” nos ensinou sobre solidariedade, fraternidade, tolerância às diferenças e amor ao próximo, o paraíso seria aqui. Ah!... Descobri o significado de misericórdia! É a junção de duas palavras em latim, miseratio (compaixão) mais cordis (coração).
No livro de Lucas, está escrito que Cristo ressuscitava pessoas, devido ao Seu imenso amor e dó por aqueles que perderam seus entes queridos para a morte. Diz mais: “E o último inimigo a ser reduzido a nada é a morte”.
À luz da conjuntura atual, pergunto: Como pode sobreviver no coração de um cristão o ódio e o desprezo por vidas? Como alguém pode ficar indiferente às mortes que presenciamos no dia a dia? Não é necessário Jesus voltar para salvar a humanidade. Basta seguirmos seus ensinamentos e praticarmos a ressurreição espiritual. Essa seria a verdadeira Páscoa feliz.
“Do materialismo ao espiritualismo é uma simples questão de esperar esgotarem-se os limites do primeiro”. (Raul Seixas)
Túlio Carvalho
Publicado em 1/4/21.
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