24/05/2021 - 14h16min
Alguns dos meus leitores têm me cobrado insistentemente que não ando escrevendo uma linha sequer sobre futebol já há algum tempo. Mas então, a hora é agora.
Discordo de quem diz que a dupla Gre-Nal vive um momento parecido. Isso porque ambos os times estão em formação e de adaptação aos técnicos recém-chegados? A segunda hipótese pode ser verdadeira. A primeira não é. O Inter não tem nada de formação. É o mesmo grupo desde Odair Hellman, passando por Coudet, Abel e agora Miguel Angel Ramirez, com o agravante que nesse intervalo de tempo houve mudança na presidência do Clube. O grupo de jogadores se mantém com a régua de qualidade lá embaixo. Chegaram Taison e Palácios, é verdade. Mas um deles não pode jogar o Gauchão que está terminado nesse final de semana; o outro pode, entra em campo, mas é como se não estivesse ali. Guerreiro é jogador de seleção (peruana), mas ao que tudo indica o Inter o contratou apenas para cumprir seu período de punição por doping e posteriormente para recuperá-lo de uma delicada cirurgia no joelho. Com isso, está desde 2018 na folha de pagamento, entrou em campo raras vezes com a camisa colorada e gols, que é bom, muito poucos.
Ano passado, o Inter perdeu o Campeonato Gaúcho – onde nem como vice conseguiu chegar. Perdeu o título da Copa do Brasil, em casa, para o Atlético paranaense; e foi vice do Brasileirão porque não foi capaz de fazer um único gol contra o Corinthians, em pleno Beira Rio, na última rodada. A falta de qualidade no Inter tem duas explicações básicas: primeira, porque o grupo é limitado tecnicamente. E muito. Me arrisco a dizer que pelo menos a metade do chamado “time titular” está em nível de série B. São sempre os mesmos que erram, comprometem os resultados e talvez só não saiam do time porque os que poderiam substituí-los são piores. A segunda, pra mim é a mais emblemática: a falta do torcedor no estádio e – no caso específico do Beira Rio – na hora que a escalação é anunciada pelos alto-falantes, durante os jogos e na saída dos jogadores ao final da partida, o que anteriormente ficou caracterizado como “a síndrome do Portão 8”. Sim, a mais pura falta a cobrança olho no olho!!!
Já escrevi nesse mesmo espaço sobre uma prática da qual sou adepto: a do ‘poder da vaia’ no futebol. Ela é a forma que o torcedor tem para expressar o seu descontentamento com aquilo que a direção do clube e a comissão técnica ignoram, mas que o torcedor enxerga. A vaia é desprezo, desestabiliza, desorienta, cobra. Pauta a crônica esportiva. E mexe com o time, com a comissão técnica e com a direção. Quando ela inexiste, a leitura de todos é que tudo vai bem.
O jogador de futebol profissional – em especial o dos grandes times da série A –pertence uma casta semianalfabeta, mas de alta remuneração, generosos espaços midiáticos e com um certo poder de influência em relação à maioria dos demais profissionais. Estão ‘blindados’ do apelo popular porque raramente vão à farmácia, bancos ou supermercados, que é onde ‘o povo está’. Frequentam aeroportos e restaurantes caros onde poucos mortais vão. E agora, ainda escondidos pelas máscaras. Isso, salvo raras exceções, o ‘induz’ a se sentir um ser acima do bem e do mal. Muitas vezes por culpa dos empresários, procuradores, dirigentes de clubes e parte da imprensa. Por esse motivo, eu costumo dizer que ‘essa espécie’ só é afetada na sua performance em duas ocasiões: a primeira, é lógico, quando a situação afeta o seu bolso. A segunda, é quando ele passa a ser intolerado pelo torcedor. Essa, inevitavelmente, afeta a primeira.
Portanto, se tem uma categoria profissional que a pandemia favoreceu foi a do jogador de futebol de qualidade duvidosa. E no Inter eles são muitos...
Daniel Andriotti
Publicado em 21/5/21.
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