Gazeta Centro-Sul
Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
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17/05/2021 - 13h26min
Comportamento
O Lado Bom da Vida
Estou bem de saúde, a família também, então, reclamar não posso. Mas me toca o coração saber que há uma tristeza percorrendo o mundo, já faz mais de ano, assustando toda gente. Fazendo ameaças àquela vida presencial que levávamos, de sair para buscar o pão quentinho, de ver estudantes pelas ruas, de encher estádios para o bom futebol.
Verdade seja dita, a vida muito já me ensinou sobre as incertezas do futuro, que a Deus pertence, como diziam as mães daqueles outros tempos. E sabemos, todos, que é preciso viver um dia de cada vez, agradecer pelo que temos, porque amanhã é um novo começo. Mas nos tranquilizava saber que a família estaria reunida para o almoço de domingo, que haveria festa nos quinze anos da prima, que nossas crianças teriam recreios a alegrar suas vidas.
Estou bem emocionalmente, sempre tive paciência, o tempo me fez darwiniana, aprendi a me adaptar seja qual for a situação. Contudo, há dias em que me bate uma tremenda saudade do velho normal. Vontade de simplesmente andar pelas ruas da minha cidade, encontrar conhecidos, contar e ouvir novidades. Abraçar pessoas amigas, perguntar como andam suas vidas. Vento batendo no rosto, sorriso livre de máscara.
Ah, que falta eu sinto de, uma vez por semana, buscar a neta na escola, levá-la na academia, para aula de dança, e esperar pela filha. Por lá, rever amizades antigas, me surpreender com as novas. E, no outro dia, ir com ela na aula de teclado, ficar observando as primeiras notas musicais aprendidas, ouvir os elogios que ela recebe do jovem professor.
Estou bem ficando bastante em casa, sempre gostei do aconchego do lar. Nos dias de baixas temperaturas, era exatamente onde eu queria estar na maior parte do tempo. O que me deixa apreensiva é uma outra tristeza dando voltas ao mundo, anunciando que talvez seja necessário, em um novo normal, seguirmos mantendo esse distanciamento. Que talvez as escolas desapareçam da vida dos adolescentes, que não haja mais cafezinho com debate nos intervalos dos universitários.
Estou bem de saúde, a família também, então, reclamar não posso. Mas me toca o coração pensar que o bom da vida real possa estar de malas prontas para o universo virtual.
Cristina André
Publicado em 14/5/21.
