19/04/2021 - 13h40min
Terminei agora de ver o documentário sobre o Pelé, na Netflix, e vim escrever. Quis aproveitar a emoção ainda pulsando em mim. Que documentário bonito... E ultimamente tenho me interessado em olhar as questões que estão em camadas mais profundas da emoção que aparece. Por que me emocionei às lagrimas?
O que veio foi a beleza, a justiça, o senso de oportunidade de devolver o reconhecimento, a homenagem ainda em vida. E esta parte - ainda em vida - é o cerne da questão. Percebi que o documentário mexeu com meu luto em relação a pessoas importantes para mim que têm sido abatidas pelo Covid 19. O cerco está menor, o contágio aumentou seu poder, a rapidez com que derruba pessoas consideradas fortes é menor... Como transformar isto em oportunidade?
Outro esporte meu, transformar limão em limonada. Tenho prestado atenção na minha respiração, suave e desimpedida, e irradiado profunda gratidão por esta bênção. Imagino o que pode ser não conseguir respirar, sentir a consciência fugindo. Então as cores e oportunidades do dia se exaltam. Semana passada, tratei de resolver um presente que queria dar para uma amiga há uns três anos. Um álbum de fotos. Já entreguei. Há urgência em fechar ciclos, materializar agradecimentos. Hoje, preparei outro álbum para outra pessoa importante. É que trabalho com fotografia. Porque a morte exalta a vida. E sou grato por isto, por me pôr em movimento a favor da vida e do afeto. Escrevo no sábado, 20 de março de 2021. Entrada do ano novo astrológico. Entrada do signo de áries. Signo da iniciativa, da ação. Benvindo seja. Então agradeço ao Pelé, por sua liderança genuína, sua arte, seu amor pelo Brasil, seu exemplo e incentivo para gostarmos deste país e acreditarmos em nós próprios como ele acreditava em si mesmo.
Ontem, fiz uma carta para meu filho sobre informações pessoais que possam ser úteis no caso da minha morte. Mesmo tendo um plano bem desenhado de festejar meus 90 anos, com saúde e lucidez, com filhos e netos e minha companheira Patrícia. Tenho 61. Me cuido, faço minha parte. Ao mesmo tempo, me agrada a perspectiva de estar diariamente pronto para morrer, porque o dia, a vida foi bem vivida.
Finalizo incentivando a cada um para compartilhar seus medos, seus sonhos, suas orientações para sua própria passagem, em especial com a família e amigos do coração. Não há idade para esta surpresa inevitável. No mínimo, é uma oportunidade para refletir sobre seus valores pessoais. Obrigado, Pelé, me fez bem vê-lo reconhecido em vida. Me estimulou a conectar com amigos ainda vivos e partilhar afeto verdadeiro. Tantos poetas e filósofos já exortaram a viver cada dia como se fosse o último. É fascinante esta perspectiva. Abraços!
Joaquim Mello
Publicado em 16/4/21.
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